Por Demétrio Weber (demetrio@bsb.oglobo.com.br) | Agência O Globo – 15 horas atrás
BRASÍLIA
- Oito em cada dez escolas públicas ficaram abaixo da média no último
Exame Nacional do Ensino Médio (2010). É o que revelam os resultados do
Enem por estabelecimento de ensino, que o Ministério da Educação divulga
nesta segunda-feira. O cálculo considera escolas em que, pelo menos,
25% dos alunos participaram do exame. Entre os colégios particulares, 8%
não conseguiram superar a média nacional - um décimo do índice
verificado na rede pública.
A média geral dos estudantes do último ano do ensino médio foi de
553,73 pontos, numa escala até 1.000. A nota considera o desempenho
tanto nas provas objetivas quanto na redação. E é ela que serve de
referência para determinar quantas escolas ficaram abaixo da média
nacional: nada menos do que 8.926 estabelecimentos públicos e 397
privados. Considerando apenas a nota geral nas provas objetivas - 511,21
pontos -, 80% das escolas públicas ficam abaixo da média.
A diferença entre a rede pública e a particular é um desafio para o
sistema de educação brasileiro. E o Enem 2010 apresenta novos dados
sobre o problema. Das 20 escolas com maiores médias, 18 são privadas e
as duas públicas são vinculadas a universidades federais. Na outra
ponta, todas as 20 piores são públicas, assim como as 100 unidades com
notas mais baixas. Entre as mil escolas com piores médias, 995 são
públicas e apenas cinco, privadas.
O ministro da Educação, Fernando Haddad, lembra que outras avaliações
já mostraram o abismo entre a rede pública e a particular. Para ele, é
natural que existam escolas com melhor e pior desempenho,
independentemente da rede à qual pertençam. O problema, observa o
ministro, é mundial. No caso brasileiro, porém, o absurdo está no grau
de desigualdade:
- É assim no mundo inteiro. O que chama a atenção no Brasil é que as
distâncias são intoleráveis. Mais de dois terços da explicação de
qualquer desempenho está fora da escola. É diferente uma escola em um
bairro nobre, com um investimento anual dez vezes superior ao de uma
escola pública, em área rural, que atende filhos de lavradores que não
tiveram acesso à educação.
Situação diferente é a de estabelecimentos com perfis semelhantes em
termos de localização, financiamento e alunado, mas rendimento escolar
discrepante. Nesses casos, segundo Haddad, o gestor precisa tomar
providências para melhorar a escola com fraco desempenho e replicar
experiências de sucesso:
- Quando tem a mesma clientela e desempenho desigual, aí cabe ao gestor público agir.
Inep: resistência aos rankings a partir do Enem
Ao divulgar os resultados por unidade de ensino, o Ministério da
Educação separou as escolas em quatro grupos, conforme o índice de
participação dos alunos no Enem. O objetivo foi evitar que "amostras
viciadas" beneficiassem determinadas escolas. Em tese, isso pode ocorrer
nos estabelecimentos onde apenas uma minoria, formada pelos melhores
alunos, faça o teste.
O grupo 1 reúne estabelecimentos em que 75% ou mais dos estudantes
fizeram as provas; no 2 estão os que ficaram na faixa de 50% a 75%; no
3, os de 25% a 50%; e no 4, de 2% a 25%. Escolas com índice de
participação inferior a 2% ficaram sem nota, assim como aquelas em que
menos de dez estudantes se submeteram ao exame. O ranking publicado pelo
GLOBO a partir dos dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais (Inep) só não incluiu escolas do grupo 4 por conta do baixo
percentual de participação de alunos. Também foram excluídas escolas
que não tiveram nota divulgada porque menos de dez alunos fizeram o
Enem.
Haddad recomenda aos estudantes que vejam o percentual de
participantes de cada escola ao compararem as notas. O MEC não
estabeleceu critérios para definir o que deve ter mais peso, a nota ou o
grau de participação. Na teoria, quanto maior o número de alunos que
fizerem o exame, mais representativo o resultado.
O ministro ressalvou que o Inep tem resistências à criação de
rankings. Um dos motivos é que a qualidade das escolas, segundo ele,
envolve outras dimensões além do exame. Ainda mais que o Enem é um teste
voluntário, de modo que a amostra de alunos nem sempre tem validade
estatística para representar o universo da escola. Entre as 20
primeiras, a parcela de concluintes que fez as provas supera os 84% em
19 delas.
Em 2010, o Enem atraiu concluintes de 23.900 escolas de ensino médio
regular. Excluídas as unidades com participação inferior a 25% ou menos
de 10 inscritos, esse número cai para 16.226 escolas. A maioria delas -
9.323 ou 57,5% - ficou abaixo da média geral. Na ponta de cima, 6.903
escolas superaram a média. Nesse grupo, 4.713 eram particulares e 2.190,
públicas. Das mil escolas com maiores médias no Enem, 912 eram privadas
e 88 públicas.
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