Nos últimos dias temos notícias sobre alguns debates referentes à mudança que pode ocorrer no vestibular. Pelo jeito a ideia é dar mais oportunidades de escolhas aos estudantes sobre o curso que pretende concorrer. A proposta também parecer ter a preocupação de garantir a possibilidade de mais alunos terem acesso à Universidade e, com isso, termos no futuro mais profissionais com nível superior. Está aí uma proposta que deve ser discutida bem como aquela que se experimenta em Minas Gerais, em que o aluno já deve escolher no Ensino Médio que área pretende seguir: humanas, biológicas ou exatas.
Entretanto, não farei aqui uma análise sobre esses projetos. Quero falar do vestibular a partir de outra perspectiva, pois sabemos que os vestibulandos vivem um momento difícil na vida. É uma fase de transição. Se nas comunidades indígenas existem os ritos de passagem e de iniciação e há toda uma cerimônia para isso, o vestibular parece representar a mesma situação. São os temores, os medos e as apreensões, que fazem até tirar o sono, que preocupam os alunos que irão fazer as provas. Podemos até considerar como um tipo de violência simbólica saber que o curso que vai se prestar tenha mais de 50, 60, 70 ou 100 candidatos por vaga. É motivo de stress, de angústia, de choros e ranger de dentes. Porém, não só o vestibular em si que inquieta, como o dar um branco ou chegar atrasado na hora da prova. Imagine saber que a família e os amigos torcem e desejam o sucesso e o fracasso que se apresenta! A família mesmo sem manifestar diretamente, muitas vezes deposita todos os anseios e desejos no adolescente, esperando que este possa suprir o sonho não concretizado dos pais,o que influenciando na escolha da profissão do filho.Desta forma,o jovem que está passando por situações de escolha, acaba se sentindo pressionado tanto pela sociedade,quanto pela família,o que pode acarretar em graves distúrbios psicológicos. Sem falar da culpa que se vive quando se sai para passear! "Vai que essa balada me fará errar uma questão e perdi a chance de ser aprovado", pode dizer um aluno. Que neurose, hein! Mas é possível ver a coisa por outro aspecto. A vida é cheia de desafios tão importantes quanto o vestibular. Parece-me que é isso que lhe dá o sentido. É verdade que o nosso desejo é não passar por mais essa batalha. Tem saída? Penso que sim. Tenho visto que a preparação para o vestibular tornou-se um grande negócio. Os estudantes se transformam em meros ratinhos de laboratórios. Bem treinadinhos durante um ano nos cursinhos, eles são condicionados, pois terão uma recompensa bem definida: a aprovação. E se não são? Veja que a vida é mais que isso. Esse treinamento ou condicionamento parece não preparar para a vida. Fazer mais e mais exercícios, sem reflexão, sem criar, sem entender os conceitos, é marca desse processo. Pense nesse aluno na universidade, lugar onde, em tese, se faz pesquisa, investigações e ideias são inventadas e articuladas! Por último, mas não finalmente, temos algumas saídas para esses dramas: fim do vestibular e conectado a isso, investimento na escola pública e na Universidade Pública. Isso é cidadania na prática. E xô! , bicho papão, também dos nossos dinheiros! Professor Alonso Bezerra de Carvalho é formado em Filosofia e Ciências Sociais, Mestre e Doutor em Educação, com Pós-Doutorado na França. Atualmente é professor da Unesp. E-mail: alonsoprofessor@yahoo.com.br.
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